domingo, 2 de dezembro de 2007
Caminheiro
sábado, 8 de setembro de 2007
Estelar
O choro vende nossa alma. Quando nem sabemos o que ela contém. Cristais de segredo que se despedaçam. Não se deixam ver numa tarde de chuva. Rumam para o ralo. Estrelas mortas no buraco negro. Bueiro. Halo. A queima de corpos. Antes celestes. Antenas céleres que nada comunicam. Vermelho é aqui. Como quando os olhos se fecham pro sol. Frecham o medo mesmo no escuro. E correm as ruas notícias de amanhã. E correm às ruas os fantasmas que nunca morreram. Nunca nasceram. E esquecem que a timidez executa. Esquecem que à timidez nada intimida. Esquecem a escuta e derivam... Esquecem papéis soberbamente desempenhados. O do poeta que retorna e traz o seu grande poema cravado em suas costas. O dos espelhos que se partem sempre. E um terceiro que hesita em deixar o camarim. As cotas extrapolam os olhos. O choro que borra a maquilagem. A máquina que reconstrói o tecido de inocência. O tremor que abala a cidade deserta. Pois o shopping paira elevado. E desperta a montanha que se derretia na calma de milênios. E morre. E jaz nas casas. Nas horas. Nas rodas. Engrena o silêncio metropolitano. E avança periférica. E atropela o sonho da árvore centenária. Assim que a centelha se espalha. Do espaço, o satélite espelha os olhos marcianos. E a espada se apaga. Não mais a chama sagrada. Que só uma lágrima pura podia apagar. Ais sintetizados. Com patentes reversas. Com destinação perversa. Como um demônio que acordasse e visse uma tela das polegadas de um rei morto e dormisse como uma criança no colo materno. Mutar. Matar. Pode ser só uma questão de crença. Ativaram a doença quando o pecado nasceu. Inferno. Assinaram a sentença quando Deus retirou-se do pátio e assinou a concordata. Concordo com nada. Nego a virtude dos teus olhos. E ela acha que é só charme. Retiro o enxame de idéias. Incendeio meus cabelos. E caminho com uma calma inusitada em plena tarde de chuva. Porque só se molham os que temem. Só tremem os que pensam. E morrem os que assistem. Quem participa nunca existiu. Quem paparica muito resistiu. E versou um carinho que justifica. Pois dos justos teremos a cabeça. Mas nada do baixo ventre. Pois é justo o que se faz a quatro paredes. É justo prender as lágrimas. É justo embebedar-se numa canção abafada pelo ruflar da memória abortada. E acalmar-se quando a calma acaba, sorrateira no rodapé do céu.
domingo, 2 de setembro de 2007
Remanescente
Não tem a ver com tornar-me amargo. É uma casa vazia e um coração ausente. É assim que vejo. Daqui onde horizontes se cruzam e formam perfis de mulheres que deveriam estar mortas. Ou pelo menos esquecidas. Minha mãe, minhas amadas. Todas aquelas que se perdem no silêncio dessa casa que zomba de mim. Minha casa. Assombrada pela minha ausência. Tranquei-me por fora. Detive a fera lá dentro. Agora moro na rua. Perambulo pelas ruas tortas e pelas retas me perco. Mas de noite sempre volto. Espreito o interior. E sempre decido esperar. Agora morro na rua. Morro por dentro, pois a fera destrói tudo. E dói o fora. Incapaz e covarde. Preguiçoso talvez. E não há uma hora certa. Ela sempre já passou. Há um perfeito círculo pelo qual dou voltas e voltas. A falha nunca me encontra. Há três coisas nesse círculo. Fome. Fé. E uma terceira que se esquece das horas. Basta tomar um banho. Fingir um pouco de vida. Porque nos nossos dias, ser do contra é ser feliz. Como se a chave estivesse sempre por fora. Mas não há coragem para entrar. Não há o que rever. E se já houve, não se escuta mais seus sussurros dentro da casa fechada como uma noite. Brilha o dia e o sol anuncia silêncio. Ainda que as flores sejam de verdade. Os rios estão concretados. Como eu que viro e volto em torno dessa casa-eu-mesmo. Sem saída. Sem cortina nas janelas. Pois estou preso por fora. Entrar pode ser estar livre. Mas quem quer estar diante do vazio e resistir. E ressuscitar. E voltar. E dizer que lá dentro mora um anjo, nem lá dentro nem nessa rua. Talvez no inferno haja algum aprisionado. Currado incessantemente. Por suas virtudes inquebráveis. E ouço vozes femininas sob o guarda-chuva. O mistério do semi-rosto. O semi-riso. Semi-serrado avanço. Que é sempre pra trás. Como quem descumpre o contrato. Quem volta um vídeo. E faz tudo errado diferente de novo. A casa fede a fezes. Os corpos das virtudes desencarnadas. A fera se alimenta delas. De todo o potencial que elas deveriam ter. Porque a fera se alimenta do que não deixou existir. E fica gorda e flatulenta. Mas nunca percebe que exala o artificial. Que exalta o bestial que nos compõe. Mas eu vejo a foto. Talvez de mamãe. E torno-me educado como deveria ser. Uso guardanapo e os talheres certos. E nunca olho nos olhos. Nem falo com as mãos. Como as mães gostam. Como a fera se esgota com esses rituais de copa e promessas de espelho de banheiro.
segunda-feira, 27 de agosto de 2007
Grandioso
domingo, 12 de agosto de 2007
Binário
sábado, 4 de agosto de 2007
Encanto
sábado, 28 de julho de 2007
Parábola
terça-feira, 17 de julho de 2007
Escritório
O óbvio na boca dos medíocres sempre soa genial. Esperei pra ver se ela vinha. Era um dia especial. Nada de novo sob o sol, mas um cheiro bom no ar. Três coisas restando. Tristezas resistindo enquanto caminho no céu. Nada que não passe. Nada que não me ofereçam, mas hoje dobro as esquinas com a certeza da esquiva alheia. Dia de sair de casa. De cumprir rituais. Três coisas contando. Fome, amor e uma terceira que só os amigos entendem. Me afastei um instante e a janela era armadilha. Uma trilha desenhada em notas de branco nuvem. Pros sons que vem. Pros sons que vão. Provas embutidas em simples caminhadas. Sonhos sempre morrem ao acordar. Se não há memória, habitat artificial do sonho, do criador e do tédio de não repetir o acerto. O cetro passa muito pouco. Realeza não se sabe ao certo. Fingi que não vi, pois sou tímido. Encarei a calçada. Não hoje que andei macio. Ela não acreditaria. Até me adiantei e estendi o tapete, pois queria o veludo azul sob os pés. A leveza de um ombro. A maciez de um colo. A beleza de um sono. Tranqüilo, evito o frio. Hoje o dia passou. E ela madrugada. Eu sereno ao meio-dia. Fim de tarde e penumbra de cobertas. O que faz pensar que nada muda totalmente. Nada permanece, a não ser o nada que intercala pequenos vilarejos de astros. As estradas, se havia, não eram necessárias. As estrelas se riam do tolo desejo infante. Mas, infame, foi capturado um raio de sol refletido, em prata convertido. E tudo era cenário que as paredes escondiam. E ardiam luzes na febre do perfeito. E palavras escorriam sobre a fronha. E embaixo se abria a semente. Fácil como usar amuletos e escrever cartas. Foi como anexar um território hostil em que o vencido ignora o vencedor. Ela sabia desde sempre. Eu pestanejo e invento outra tarefa. Bloqueio o sinal que vai chegar. Interpreto a calma como o momento a ser ignorado. Mas o olho reprime e as mãos não esboçam interesse. E lógico sempre parece. Como receitas de senso comum. Mas não é a isso que pertenço. Sendo mais exato. Hoje dei quatrocentos e setenta e seis passos. Subi umas três dúzias de degraus. Acabei me confundindo nas maçanetas. Acampei diante da minha cama e rezei em nome dos que não me venceram. Acordei três vezes hoje. E em todas elas era eu mesmo. Sem invenção que não os artifícios que a linguagem me obriga. Hoje essa língua se perdeu. E a noite reaparece como o rito de voltar a falar.