sábado, 2 de fevereiro de 2008

Solar

Talvez fosse esse o movimento. Um de rotação outro de translação e um terceiro que faz achar que nada mudará. Um sinal que se desprende. Uma fúria que repreende incautos. A benção dos acomodados. Mas haveria de pisar na Lua. Insistir que não existe armação. E comprar comprimidos estranhos para pura diversão. Talvez fosse a esquina e o bloco tremendamente saliente. O bloco de gelo em seu peito. Cigarros despertos para aplacar o frio. Como fosse sempre o fim. Uma brasa que leva a outra e mantém a chama sempre acesa. Pode não haver esperança. Mas haverá uma brasa morna e cinzas no último dia. Haverá uma lanchonete aberta. Haverá garis na rua. Haverá tudo quanto é tipo de resto. Amontoados restos de rostos. Alegrias definhadas na sarjeta da avenida. Mas afinal o que vale é isso. Rodar sobre o próprio eixo. Em não se achando nada roda-se como pião. Acomodar-se como passageiro de si mesmo. Talvez fosse só a calma e a indiferença. A manutenção do estágio intermediário. Aquela linha tênue que nunca se ousa perder. Mesmo quando se insiste que se perdeu. Todos os fios desgarrados. Emaranhado de identidades. Anônimos singularmente clonados de si mesmos. Odores em confusão. Há combustão nos passos que levam a algum lugar. Sempre queima um resto de alma em algum lugar. Sempre sobra um pouco de lama em algum lugar. Sempre há alguém. Sempre há algum lugar. Mesmo depois que as portas fecham. Depois que o efeito Doppler distorce as marchinhas que passam. Depois que a massa do caráter volta ao normal. Ou mais inchada que nunca. Mas afinal não é isso que importa. Poder fechar as janela e dormir mil dias. E não se lembrar. Ninguém vai lembrar. Nem vão dizer se lembrarem. Afinal ninguém diz. Não é polido. Ao menos dessa vez. Ninguém é de ninguém mesmo no dia seguinte. Uma fina máscara cobre a todos e protege a intimidade. Cubra o rosto e descanse. Aos poucos o caminho se recompõe. Desperte os ossos e garanta que ainda há olhos. Nada mais há. Os restos vão para o monte e confundem-se com o movimento do gari que rodopia sobre o eixo de sua vassoura. Sonhando uma avenida só sua. Sambando uma alegria só sua. Desejando uma terceira coisa que os restos evidenciam. Enquanto isso o sol se levanta e acende o pavio de sua ressaca.

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