domingo, 2 de dezembro de 2007

Caminheiro

Por onde levam os caminhos. Questionamento básico de quem só avança. Um rumo. Todos os contrários parecem ir melhor. O caminho é o mesmo. Muda tanto quando muda a direção. Mudo eu vou. Mudo os passos. Muda a rua. Medido o medo. Meio termo. Suor ente os dedos. Porque há avanços que só o corpo registra. E a mente, por mais que insista, perde-se nesse vão. Pois os passos levam. Sempre. Mas tiram. Sempre também. Sempre tão bem. Apagados os rastros. Onde pára esse espaço que não diz. Não se diz. Não há dúvida. Tudo é resolvido por amortecedores e alta tecnologia de absorção de impactos. Ninguém apenas vai. Mesmo quando vai só. Só vai cumprir um destino. Talvez glorioso. Abstraído das estatísticas das Ciências. Distraído das magias de butiques chiques. Fará diferença. A repetição ritualística dos exercícios de balística para mostrar que era assim que andava o cadáver. Cada um vê o que quer. O que pode. Escapa. Porque pode chover e lavar os traços do silêncio. Chove sempre que se morre. Chove por dentro. A morte é a chuva dos destinados. E se precipita de lá. O precipício que embebeda e atraí. Musa que despe o corpo de todas as vergonhas. Música que envenena qualquer sentido. Ela não tem direção. Lança apenas perfume. Lança o perfume no dia. Pois o dia é a alma da Morte. Radiante inverso do pânico noturno que nos assalta quando ela vem. Uma onda apaga o caminho. A falta vem e se deixa tomar. Como medo interrompido o caminho desfaz-se atrás dos pés dela. E ela espera adiante. E o caminheiro segue a trilha que já nem existe. Dele embora trilhada por ela. Ela tem paciência e o caminho sabe de seus passos. Mas não tem a ver com isso. Há sim uma sombra que precede o caminho e o refaz incessantemente. E não é nuvem. Nem lágrima. Nem caminho de verdade. Há hipóteses que não param. Há todas essas palavras que orientam e direcionam. Há um elemento intacto que reluz por todo o trajeto. O elemento da grandiosidade. E certo é que se desfaz nessa culpa de colher os corpos destilados por eras. O caminheiro se desfaz na culpa de escolher os copos estilhaçados por elas. As musas que cantam ao longo do caminho. Tão longo quanto a palma da mão de um deus. Onde elas se espalham e seduzem os que falham. Um por vez. A cada vez. Assim que o dia da vida irradia numa palavra que nunca é. Tão logo a palma se feche.