terça-feira, 17 de julho de 2007

Escritório

O óbvio na boca dos medíocres sempre soa genial. Esperei pra ver se ela vinha. Era um dia especial. Nada de novo sob o sol, mas um cheiro bom no ar. Três coisas restando. Tristezas resistindo enquanto caminho no céu. Nada que não passe. Nada que não me ofereçam, mas hoje dobro as esquinas com a certeza da esquiva alheia. Dia de sair de casa. De cumprir rituais. Três coisas contando. Fome, amor e uma terceira que só os amigos entendem. Me afastei um instante e a janela era armadilha. Uma trilha desenhada em notas de branco nuvem. Pros sons que vem. Pros sons que vão. Provas embutidas em simples caminhadas. Sonhos sempre morrem ao acordar. Se não há memória, habitat artificial do sonho, do criador e do tédio de não repetir o acerto. O cetro passa muito pouco. Realeza não se sabe ao certo. Fingi que não vi, pois sou tímido. Encarei a calçada. Não hoje que andei macio. Ela não acreditaria. Até me adiantei e estendi o tapete, pois queria o veludo azul sob os pés. A leveza de um ombro. A maciez de um colo. A beleza de um sono. Tranqüilo, evito o frio. Hoje o dia passou. E ela madrugada. Eu sereno ao meio-dia. Fim de tarde e penumbra de cobertas. O que faz pensar que nada muda totalmente. Nada permanece, a não ser o nada que intercala pequenos vilarejos de astros. As estradas, se havia, não eram necessárias. As estrelas se riam do tolo desejo infante. Mas, infame, foi capturado um raio de sol refletido, em prata convertido. E tudo era cenário que as paredes escondiam. E ardiam luzes na febre do perfeito. E palavras escorriam sobre a fronha. E embaixo se abria a semente. Fácil como usar amuletos e escrever cartas. Foi como anexar um território hostil em que o vencido ignora o vencedor. Ela sabia desde sempre. Eu pestanejo e invento outra tarefa. Bloqueio o sinal que vai chegar. Interpreto a calma como o momento a ser ignorado. Mas o olho reprime e as mãos não esboçam interesse. E lógico sempre parece. Como receitas de senso comum. Mas não é a isso que pertenço. Sendo mais exato. Hoje dei quatrocentos e setenta e seis passos. Subi umas três dúzias de degraus. Acabei me confundindo nas maçanetas. Acampei diante da minha cama e rezei em nome dos que não me venceram. Acordei três vezes hoje. E em todas elas era eu mesmo. Sem invenção que não os artifícios que a linguagem me obriga. Hoje essa língua se perdeu. E a noite reaparece como o rito de voltar a falar.

3 comentários:

Lidia disse...

ignorar momentos...
às vezes parece o melhor negócio.

adicionado no quintal tb.

beijo

Sheyla Fernandes disse...

Ser genuíno... algo nem sempre tão fácil quanto parece ser. Será que no momento em que ficamos sem palavras é o momento em que conseguimos ser nós mesmos? Me deixasse com uma pulguinha atrás da orelha, senhorito.

Te agradeço por isso.
Bjus!

Ceres, simplesmente! disse...

Não sei oque dizer. Simplesmente lindo! Beijo!