quinta-feira, 14 de junho de 2007

Nódulo

Não há porque se levantar. Sempre penso nisso. Mas a bexiga logo avisa, exige. Tem feito frio, o que é bom. É bom ouvir música e dormir. Tanta coisa “é bom”. Sobretudo o que não se tem. Comi minha última maçã. Ainda resta feijão. Ganhei macarrão, milho e soja. Sempre ganho algo. Essas recompensas por ser amado de algum modo. Sempre há um modo. E no fim das contas mantenho a dignidade. Circulo entre todos como igual. Mesmo com os punhos e bainhas rotas. Um arame amarrado num poste rasgou uma camisa que eu gosto. Eu tenho linha e agulha e uma explicação. Uma boa história faz o coitado. Por isso é preciso parar os rodeios. Eu tenho uma intenção aqui: te convencer e ponto. Pronto. Simples assim. Sem cerimônias. Não há mais sobre o que escrever e sim porquês pra se escrever. No fundo cada linha pode ser biografia do mundo. Então sobre o que se pode escrever? Presente. Passado. Futuro. Eu atendo telefone e a voz dela está lá. Uma metralhadora em meu coração. Música pro ouvido. Ela quer me mostrar algo. Eu sinto algo. Normalmente sinto duas coisas. Fome e vazio. O bom disso é que o vazio, muitas vezes, é parecido com a fome: se contenta com bastante gordura e Coca-cola. Mas dura pouco esse aceite. Então resta ter fome e comer a última maçã das que ela me deu. Parece que o vazio se preenche com gente. Mas também dura pouco porque não se pode prender ninguém. Olho as linhas escritas no papel e imagino que não há o que esperar. Já esperei demais. Sobretudo de mim. O que eu quero? Uma notificação oficial no Diário da União? Sim. Amor e fome podem ser sinônimos. Sabe, pegar na mão é sentir a alma. Eu nunca fui de toques. Nunca fui de beija-beija-beija as bochechas. Talvez eu tenha perdido com isso. Uma mão espelha pros dois lados. Dentro e fora. Hoje pratico mais, questão de sociabilidade, mas é algo sincero. E ela nunca me beijou. Não desse jeito. Nem eu. Abraços e mãos são o que gosto de sentir com ela. Diferente porque talvez nunca seja. E confuso. Estar só rodeado, um clichê, talvez, somente humano. Porque ‘talvez’ é nossa sina. Alguém pixou o muro me chamando à luta. Talvez eu lute uma vez mais. Sentado com ela, evitando termos intelectuais, montando uma história, a mais simples, do que é um quebra-cabeças sem todas as peças. Eu estava lá. E nada é claro. Ficam as sugestões e o medo de sirenes noite adentro.

Um comentário:

Sheyla Fernandes disse...

Amor e fome podem ser sinônimos, mas será que metralhadora e música também? Eu não sei. É difícil entender como alguém pode afetar um outro ser de uma maneira tão antagônica e contraditória. Acho que quando entendermos isso não sofreremos tanto...

Beijos e até a próxima (acho que está bem perto).

Shê.