quinta-feira, 21 de junho de 2007

Procriar

Quem é esse novo que se anuncia? Que ameaça a comodidade do inconformado. Não comprei nada ainda. Gostaria de um pote de silêncio, com validade indefinida. Ou um silêncio raro, preservado desde a Idade Média. Tudo custa. Muito pra vir pouco pra ir. Imagina um silêncio desses... não gosto de trabalho, nem gostaria de defini-lo. Não gosto e pronto. Não queria que fosse trabalho o que gosto. Mas queria que desse retorno. De modo velado, é claro. Est ética estampado numa camiseta. Bárbaro como tudo que pode ser cifrado. Não gosto de dinheiro também. Não reclamaria se as coisas só aparecessem pra mim. Mas uma alma satisfeita já desapareceu quando se encontram os esqueletos em seu armário. Gostaria de falar de alguém que vive numa casa que não é sua e que é de todos. Gostaria de uma história pesada sobre subempregos. Gostaria de contar história pras minhas gerações. Mas eu mesmo prefiro os vídeos. Quando filmarão o Ulisses para que eu finalmente o leia? A bomba de água mineral não foi trocada ainda. O metrônomo está travando e ainda não digitei os manuscritos. Como confiar no que virá se vier de mim? Eu sei que não se responde sozinho. Mas quem é ela que contém a meia resposta. Por quem vale a pena assinar o contrato? E eu disse a ela pra pensar mais em si mesma. E eu estou certo. Pode ser pior se perder junto. Ela mora em tantos olhos, em tantas pernas e mãos. Mas todas me fazem pensar na força de trabalho que deve ser vendida pelo seu tempo livre. Nem isso vale o trabalho. O trabalho vale por três coisas. Fome, amor e uma terceira que, dizem, inventaram há muito tempo. O que resta de um homem morto? Sementes, mudas e folhas ao vento. Sobra uma ossada, uma foto em algum lugar e as últimas contas a pagar. Sob o sol, sob a grama dos cemitérios jardins, sobre a lápide um nome. Um homem morto se resume a um assento vago no ônibus, a um assunto na mesa do bar. Um suspiro teatral. Todos cara de inevitabilidade. Remoendo a culpa de ainda estarem vivos e saudáveis: alvos perfeitos pra semana que vem. O que narrar sobre um morto comum, de nome de seu tempo e cicatrizes que desenham uma palma da mão? Eu queria contar a história de um homem que plantou uma sete – copas. Dizem que quem planta essa árvore não vê a última copa brotar. Ele nunca mais voltou a vê-la porque suas superstições eram mais fortes que ele. Pobre pecador.

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