domingo, 12 de agosto de 2007

Binário

Certas palavras voltam à tona. Agora a fome administrada. Outros gostos vão se refazendo. Alguns rostos renascendo. E fotos três por quatro amareladas. Memórias retidas em movimentos peristálticos. Pode ser que acabe logo. Há três coisas agora. Fome sincronizada. Relógio de ponto. E uma terceira que o final do mês conta. Há a habilidade de esconder-se por trás da própria voz. E sorrir só pra si. E chorar nunca. É demais mesmo. Sentir o ar em sintonia. Cavucar os arquivos de quem quer dormir quieto. Apenas. Ossos do ofício. Adentrar orifícios munido de credenciais. Despertar o sono da difícil dama do assento ao lado. Descartar as boas vontades escamoteadas em sussurros e desejos reprimidos. Deslanchar com a idéia de libertar todos os pombos do mundo da missão de entregar mensagens. De paz ou de guerra. Pode haver um lugar que não esteja doente nesse trajeto. Retire o traje de contenção. É apenas ar. E nada muda tão rápido que não possa ser fotografado. Atualiza o catálogo de medos e despeça-se da certeza que juravas ter. Porque eu não tenho mais tempo. Nem paciência. Assassinei tudo. Em nome de uma ciência vã construí um castelo de teses e referências bibliográficas raras. Como o nome do poeta nunca lido. Rodeado por acadêmicos, lentos em seu bocejar. Anêmicos na alegria de resgatar outro esqueleto. Não há o que fazer. Até que a morte se repare. Coisas que dignificam. Constroem caráter e devolvem a estima que nunca se teve. Talvez não se aplique nessa temperatura. Talvez nunca decole e nem atravesse mar algum. Mas é uma equipe que se forma. E a norma vigora de agora em diante. Assim decorada. Quase rimada com ela mesma. Expelida com o ar que se condensa no frio. Há um lugar comum aqui. Uma vala de todos. Para todos. Elaborada. Cartografada, revista e ampliada. Em edições semanais de seis por um. Há uma teia que se tece. E desce pelo mapa. Se espalha pela capa de revistas e some diante de monitores vivos - humanos acima de tudo. Prontos a registrar o mínimo desgaste. A entregar a cabeça em nome da função. Pode ser que haja lembranças de um tempo em que tudo soava como um trote. Troque agora suas indelicadezas. Carregue seu arsenal de frieza e sinceridade pré-cozida. A comida estragou. A corrida mal começou. E se corre sozinho. Embora acompanhado. Foragido quase. Diluído na certeza que só aponta pra cima. E valoriza quem é um e não zero.

Um comentário:

Pega Pra Capá Produções disse...

nada como manter significados indo e vindo sem um propósito linear e previsível, dando abertura a idéias seguindo lógicas tão simples quanto a sonoridade das palavras e conseguindo emular outros no caminho. muito bom, parabéns!