domingo, 20 de janeiro de 2008

Explosivo

Explodiria se pudesse. Naquela hora mesmo. Sem nenhum medo de conseqüências. Porque conseqüências só se dão quando há rastro, quando há medo e uma terceira coisa que escorre entre as pernas. Então não havia gatilho. Empunhou a espada mesmo. A que herdara de um passado grudento e sedento. Cortou sete cabeças, matando o mesmo dragão. Seguiu adiante e desligou o aparelho de tevê. Teria dito algo se tivesse o que dizer. Todos sabiam de suas saídas e de sua rotina de herói. Desde que havia explodido da última vez ninguém o questionava. Respiravam devagar na sua presença. Ele pensava em consertar isso, mas sempre deixava pra depois. Agora tomava sua xícara de chá para tentar dormir. Por vezes tinha saudade dos lençóis de outras partes do mundo. Das outras camas em que dormira ou apenas passara a noite. Mas esse era um passado mais que perfeito. Construíra esse agora com a convicção que todo herói deve ter. Uma convicção sempre pronta a ser abalada. Pra renascer mais forte e mais teimosa. Sabia que o tipo do herói é muito limitado. Se lembrava de outros tempos. Até a vinda do mestre. Aquele que nos enlaça e desgraça nossas vidas. Que nos faz ganhar e perder companheiros. Que se orgulha de nós e mostra que há nobreza na lama. Depois ele morre na mão de algum inimigo e você tem sempre que honrar sua memória. Não se tornar igual ao inimigo. Preferia o tempo dos cortes apenas. Quem sobrasse em pé apenas ia pra casa. Não havia tantas questões. Era só um tempo de experimentar. Não havia isso de sujar as mãos. Espadas eram espadas e quando tentadas elas tinham vida própria. Hoje tudo é proibido. E sempre há uma senha pra se digitar. Explodiria ali mesmo. Se pudesse. Mas seria inexplicável. Um herói tão distinto tão legítimo. Com a mente dominada. Provavelmente isso. Nada explica que alguém queira simplesmente explodir. Explodiria se pudesse. Se ousasse ter que dar respostas. Mas assim são os heróis. Essa carcaça por dentro. Esse coquetel de culpa e pânico. E, bem lá no fundo, medo de ser deixado. Esquecido. Uma lenda. Cravaria ainda a espada em quantos dragões fosse preciso. Abdicaria de si pelo bem maior. Como se já não o tivesse feito. Como faz toda noite. Deita-se e esquece os minutos dormidos. Nem o simulador de normalidade resolve mais. O Panteão lhe prometeu férias para breve. Mas há sempre uma grande ameaça rondando o mundo. Nessa hora sempre inveja os vilões, que sempre conseguem ser genuínos. Amava os vilões. Tinha orgasmos quando matava algum. Mas mais do que eles, amava uma heroína. Aquela que sempre lhe fazia explodir. Sacou a espada e cortou a própria cabeça. As chamas se espalharam rapidamente e tudo foi pelos ares. Quando sua nova cabeça aparecesse, ia ter que dar explicações. Mas, quer saber? Fodam-se!!!


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