sábado, 12 de janeiro de 2008

Dancete

Hoje eu não quero a música que vem da rua. Quero a música aqui de dentro. Quero o som de sinapses. Sons que se pensam. Sons que pesam. Mais que isso. Quero painéis de sons estendidos em varais. Contando uma história que nunca pode ser linear. Quero a opacidade inverossímil de um lamento. Um trajeto outro. Um projeto inesgotável. Ouro em pó trazido das minas. Quero extirpar sinais que se cruzam. Pra que não haja infinito. Prática – não aja – sentido. De início o fim da umidade nas meias. As meias unidades de silêncio. Os meios de a humildade vingar-se. O pior castigo. Sem cruz pra humanidade. Que o eco nada traz. Demonstra o vazio alhures que se perde. Na linha da própria voz. Na esquina do universo. Onde deuses desempregados batem carteiras. E os monstros procuram subempregos. Não há mais necessidade de pregos. O anjo mecanizou o dia e a noite e saiu de férias. O último posto da burocracia divina. Então eu não quero música alguma. Danço comigo mesmo. Que me basto. Cismando em não arrastar os pés. Preso a uma inércia medieval. Comparo e compro e comprovo. O novo passou. Estourou-se o ovo de Colombo. E a floresta tem placas e irregularidades. Talvez o canto de um melro, não, de um mero pardal, emocione os descobridores dos escombros. Porque hoje sou inteiro demais pra observar. Para ouvir me exilei. Sem êxito voltei. E reluto em combater. Porque não há mais dois lados. O em cima do muro da moeda. E um tédio que não compra nada. Como não bebo no chafariz do seu sorriso. Como não como na tua mão. Como, arisco, evito o que sei que fere. Ferre-se esse tempo perdido. Todas as tripas mostradas em barracas dizem um futuro que canta na mudez. Arrisco uma tradução e um nome evade a cena. Um homem invade a sala e se estoura contra a parede de vidro. Há acordes que nunca soaram e morrem em sua mente. Música de miolos que escorre pela manhã. Eu queria sonhar. Com Marilyn Monroe dançando em frente ao carro incendiado ao lado da loja maçônica ao lado do prédio ao lado da minha casa. Queria sonhar três coisas nesta noite. Enquanto ela dança. Com o medo de acordar nu no meio da rua. Com o cão negro que abandonou meus sonhos de criança. E com uma terceira que o silêncio carcome durante o dia e vomita de noite. Esta noite estou farto de testes. Quero expor meu corpo a Delírio e deixar que o uníssono pereça na carcaça vazia sobre a calçada.


juniores

2 comentários:

Anônimo disse...

Sem palavras. Simplismente estupêndulo. Roubei para mim, e coloquei no orkut.
Grande Juniores! Bjo p vc.

Nega do Leite disse...

[i] Vim contribuir para UM MILHÂO...pq já passei de apreciadora para babona! Adoro-te..