quarta-feira, 14 de maio de 2008

Completo

Queria um desenho. Fazer um desenho. Do tamanho do mundo. Que coubesse o mundo. Que eu conheço. Todo mundo. Do tamanho que eu conheço. Um mapa impossível. Do tamanho de tudo. 1:1. Queria ter tintas. Dessas que a natureza inventa. Queria tingir. Queria atingir. Ter por perto o céu. Roxo. Ter por perto o seu rosto. A mais verdadeira falsidade. Queria fingir. A derradeira castidade. Queria morder. Nó no peito. Queria morrer. Só no leito. Não. Sozinha. Cópia pequena. Queria remedar o mundo. Queria remendar o mundo. Queria-te por lá. Queria te ver lá. Queria o mundo assim. Em arco-íris. Queria arcar com tudo isso. Queria acabar com tudo isso. E vêm teus céus. E vêm tuas células. E vêm tuas naves. E navegas nessa memória impossível. A memória do mundo. E construo em palavras. As teias que te cercam. Seguram teu imenso. Suspenso me apodero. Em p&b. Mas rajas meu espaço. Rasgas meus contornos. Tomas meu braço. E leva-me. E leve. Me aconchego. Chego a desistir. Mas rir agora não rola. Queria um choro. Desconhecido. Decidido por ninguém. Caos arcaizante. Dessas maneiras de falar de coisas. Queria um desenho simples. Linhas que te dissessem. Porque desenho em letras. E pinto em sons. Alfabetalizo teu riso. Aterrisso em tuas luas. E preciso disto. Das linhas. Não quebro. Porque não importa. Importam as imagens. Importam paisagens. Se bem que nada importa. Proseamos bem assim. Passeamos nestas estrelas. Que aqui o céu. Semeado por tua mão. Sondado por homens. Singrado por deuses. E a tua palheta contempla. Completa os seus rastros. Magia. Dias cinzas têm seu papel. E adormeço no meio da tarde. E arde esse tom. Toma minha mão e guia. Cria. Sopra a vida. Vidra esse corpo. Vibra esse morto. Estilhaço. Vidro e mosaico. Começa assim. Depois a luz. Se diz que antes. A tela em branco. Começo. Sou o primeiro ponto. Sou o reflexo. Flexão de criador. O que o torna. Mas sou expulso. Porque na tela. Já não pertenço. Imenso. Sou o mapa impossível. Intenso. Sou o nada visível. Soul nada. Soul todo. Almanaque de desejos. Nascido do bloco ao lado da cama. Engana negar. Esculpido em memória. Narrado em silêncio. Dito. Ditado. Rabisco vagaroso. Risco gracioso. A regra do preguiçoso. Porque é preciso negar. Nada que custe. Costeio essa borda. Chão e cavalete. Adentro o foguete. Teto. Testo. Texto. Vôo. Arranco tinta. Por mais que eu minta. O mundo não cabe em si mesmo. Queria correr o risco. Corisco nesse céu de maio. Desmaio no deserto. Aberto sobre o mundo. Acerto por um segundo. Queria percorrer o risco. Arisco nesse pedaço. Arrisco nesse espaço. Manchas que me digam. Mantras que mendigam. Não é assim. Não é ruim. Ruínas resolutas. Absoluto calvário. Vario e rio. Hoje eu quero ser um mapa. Maior que o mundo. Contendo o mundo. Fissura do peito. Pangéia. Teu leito. Teu totem. Que notem. Sósias em precipício. Somos cópias. Despidas de princípios.

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